quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Acumular forças pola Autodeterminaçom

O processo de reajustamento interno da democracia bourbónica está a entrar na sua fase definitória. Quase três décadas de liberdades tuteladas, monarquia imposta polo franquismo e ratificada na Constituiçom de 78, neoliberalismo em ascenso e tentativa de regionalizaçom das identidades nom espanholas servírom para afiançar o Estado contra as dissidências populares, mas nom rematárom a tarefa. É a vez de as elites actualmente governantes darem o toque final com mais um verniz de modernizaçom à medida das burocracias periféricas: esteio para o sistema autonómico e novos regionalismos para todos: deixam que nos chamemos 'naçom' porque vai ser em última instáncia a soberania espanhola a sancionar o nosso estatus. E quer com um termo, quer com outro, Madrid acouta de partida o terreno de jogo enquanto as decisons estratégicas, as que afectam às maiorias trabalhadoras, seguem a pairar no espaço estratosférico onde o capitalismo joga as suas cartas: longe da Galiza, longe dos parlamentos, modulando as condutas governamentais a base de cheques e chantagens.

Zapatero em Espanha e o tandem Tourinho-Quintana na Galiza desenvolvem atinadamente o seu papel: o processo de reformas autonómicas terá sucesso se for aplicado sobre movimentos populares desarticulados, com a esquerda "capitalista" coptada polos orçamentos do Estado e os espaços do circo mediático vendidos a preço de saldo; se a populaçom assistir sedada ao choque virtual com a extrema-direita, no canto de observar criticamente a realidade que piora. Enquanto os incautos pensam que a valentia dos democratas governantes nos protege da agressividade dos ultras, o retrocesso popular nom pára na Galiza: catástrofe ambiental, deterioraçom laboral, desfeita urbanística e predaçom da costa, ritualizaçom do idioma, ausência de debate público e maciço sobre as grandes questons em que se dirime o futuro colectivo. Para alguns, a ambigüidade e fraqueza governamentais alimentam involuntariamente estas e outras calamidades; para outros, que vamos sendo maioria, a inacçom governamental é fruto da cumplicidade deliberada de quem só aspira a blindar as suas prebendas, assegurando o apoio dos que mandam de verdade: os capitalistas.

Na nossa história recente, a reivindicaçom soberanista e a oposiçom frontal a todo estatutismo actuou de catalisador das mais significativas luitas populares. A autodeterminaçom situada como horizonte irrenunciável levava aparelhada a auto-organizaçom como requisito quotidiano para edificar um País que nom precisava de subsídios, políticos profissionais nem favores mediáticos. Quem hoje nos reunimos nesta praça nom o fazemos por acreditarmos nas virtudes das efemérides ou das contra-efemérides; fazemo-lo com o intuito de lavrar um espaço autodeterminista que atinja esse conjunto de projectos populares, políticos ou sociais, que bolem pola Galiza adiante, agrandando o seu potencial e pulando pola sua activaçom em chaves de soberania nacional e contra a fraude das reformas. Seria preciso que as galegas e os galegos que nom nos contentamos com as faragulhas de Madrid estivéssemos à altura dos nossos inimigos: se eles preparam com esmero a liquidaçom definitiva da nossa causa nacional e a deserçom dos movimentos do cenário do combate, cumpriria que nós desenhássemos com rigor umha intervençom sustentada, multiplicadora e coesionadora de aqueles sectores que nom se vendem. O consenso de todos os que mandam -já sem máscaras de nenhum tipo- por relegar a naçom à dependência e os trabalhadores aos ditados neoliberais, deve de ser contestado com a maior das amplitudes e a maior das contundências. Erguer um potente movimento de massas sob os eixos descritos pode erosionar o autonomismo e fazer-nos dar passos significativos para a autodeterminaçom do futuro.

Galiza, 2 de Novembro de 2006